Venerável
Frei Salvador Pinzetta
(*27/junho/1911
- +31/maio/1972)
Luigi Pinzetta e
Teodora Romani, avós do nosso santo, chegaram da Itália no Brasil em 1878. Depois
de morarem em outros locais, estabeleceram residência na Linha 16, em Casca
(RS). Não perderam tempo e trataram logo de construir uma capela dedicada a
Santo Antônio. O casal teve diversos filhos, dentre eles: Anareo, Fiorentino
(pai do Frei Salvador), Marcelo, Antônio, Beatrice e Prosperina. Luigi faleceu
no dia 28 de julho de 1923, com 76 anos.
Fiorentino, filho de
Luigi e Teodora, nasceu em Bento Gonçalves (RS), no dia 02 de outubro de 1888.
Já sua esposa Isabela, era natural de Guaporé (RS), filha de Quintino e
Gentilla Romani. Casaram-se por volta de 1909. Em 20 de julho de 1910 nasceu a
primeira filha, Levínea. Numa quinta-feira, em 27 de julho de 1911 (no registro
29), imerso em ambiente simples, alegre e religioso, nasceu Hermínio, o segundo
filho do humilde casal de agricultores, que foi abençado com 13 rebentos no
total. Os dois primeiros seguiram a vida religiosa: Levínea entrou na
Congregação das Irmãs Carlistas Scalabrinianas e atendia pelo nome de Irmã
Flora; Hermínio ingressou com 32 anos na Ordem dos Frades Menores Capuchinhos
da Província do Rio Grande do Sul, assumindo o nome de Frei Salvador de Casca.
O
batismo de Hermínio ocorreu apenas no dia 21 de outubro de 1911, por conta da distância
(13 Km da Igreja de Casca), o tempo frio e as condições precárias das estradas.
Não lhe faltou afeto
da família, a companhia dos irmãos, parentes e amigos. Acompanhava e auxiliava
com pequenos serviços os pais na roça, onde teve a oportunidade de viver em
meio às plantações e ao zelo no trato com os animais. Através do incentivo e
exemplo dos pais, do nono Luigi e demais familiares, compreendeu que existe um
Deus bom a velar por nós. Rezava ao levantar e deitar; antes e depois das
refeições, no começo dos trabalhos. O terço em família era sagrado. Desde
pequeno, Hermínio revelou personalidade dócil aos ensinamentos dos pais e da
Igreja.
A Gripe Espanhola
alastrou-se pelo Estado, semeando pânico e mortes em 1918. A doença atingiu a
família dos tios e padrinhos de Hermínio, Anareo e Cecília, que faleceram. O
casal deixou cinco filhos, todos com menos de 11 anos. As crianças foram
acolhidas e criadas pelos avós paternos, Luigi e Teodora. Hermínio e os irmãos
Levínia, Rinaldo e Pedro, além dos pais, passaram a morar também com os avós
Luigi e Teodora durante 13 meses, por medo da epidemia. Luigi contava então com
19 pessoas na família, entre crianças e adultos. As lições de catecismo e o
ensinamento das orações ficou sob responsabilidade de Luigi. E, Teodora, era
uma mãe para todos.
Freqüentar a escola
sempre foi um desejo de Hermínio. Porém, apenas teve oportunidade de receber
estudos rudimentares, onde o primário não foi concluído. Gostava de ler,
sobretudo a História Sagrada e livros religiosos. Autodidata, Hermínio
desenvolveu um conhecimento intuitivo, experimental e prático que lhe forneceu
grande capacidade de discernimento e bom censo. O nono Luigi, domingos à tarde
na capela, os preparou para a primeira Comunhão. O bom velhinho era estimado
por todos, pois suas palavras eram confirmadas pelo testemunho de sua vida
cheia de fé. Hermínio aplicou-se no catecismo. Rezou muito e esperou ansioso o
dia de receber pela primeira vez a Comunhão. Possuía quase 12 anos e uma
particular abertura de coração ao mistério da presença eucarística.
Daquele momento em
diante, Hermínio continuou participando da Ceia do Senhor e do sacramento da
Reconciliação, sempre firme e forte, sem jamais esmorecer. Rinaldo testemunha
que ao aproximar-se da mesa da Comunhão seu irmão chegava a tremer. Imaginou
que fosse de acanhamento, vergonha do padre. Mas, era por um sentimento de
reverência de quem se sente indigno de receber em Comunhão aquele que é o
Criador do universo. Mais tarde, Hermínio diria: “Deus é tudo, nós somos
nada.”.
Com a morte de
Luigi, o avô, aos 76 anos, Fiorentino, pai de Hermínio, assumiu a missão de
catequista. Continuou a preparação para o sacramento do Crisma dos próprios
filhos, Levínia, Hermínio e Rinaldo e de outros catequizandos. O arcebispo de
Porto Alegre (RS), Dom João Becker administrou o Crisma no dia 14 de outubro de
1924, na Igreja São Luiz Gonzaga de Casca, a Hermínio, na época com 13 anos.
Hermínio foi
assumindo aos poucos com os pais e irmãos o trabalho da roça, da criação e dos
afazeres domésticos. Cavalgava pelas estradas a caminho do moinho ou às casas
comerciais da região, em busca do necessário à família. Era prestativo,
respeitoso e amigo, ao nutrir bom relacionamento com a família e comunidade. Era
muito estimado e ouvido pelos irmãos. Hermínio era um jovem como os demais, bom
companheiro e muito feliz, com sorriso permanente estampado no rosto e uma
refinada sensibilidade no trato com as pessoas, principalmente com os doentes e
necessitados de ajuda. Vivia mais ligado à penitência do que à diversão,
mais voltado para a igreja do ao salão de festas. Cristão autêntico, Hermínio recorria
com freqüência ao sacramento da Confissão. Sua vida foi muito discreta e
pessoas atentas logo perceberam nele uma presença “diferente”, com sabor de
plenitude.
Sem se queixar da
fadiga ou do calor, Hermínio conheceu cedo o árduo trabalho diário do campo.
Gostava de fazer o serviço bem feito e caprichado. Apreciava as plantações, a
natureza e os animais. Não raras vezes, durante o trabalho, demorava-se em silenciosas
orações ou em conversas produtivas e úteis, freqüentemente sobre assuntos
religiosos. A oração era o forte de Hermínio, sua paixão, sua alegria e sua
razão de ser. Amava a Eucaristia.
Era fidelíssimo
devoto de Nossa Senhora, a quem amava com toda sinceridade filial. Recitava o
terço. Gostava de cantar seus louvores. Nutria também uma devoção especial a
São Luiz Gonzaga, padroeiro da paróquia e da juventude; a Santa Terezinha do
Menino Jesus; a Santo Antônio, padroeiro da Capela do Trinta; as almas do
purgatório; as grandes festas do ano e, mais tarde, a São Francisco de Assis.
Mesmo com pouco
estudo e dificuldades, ele apreciava a leitura. Lia livros religiosos, a
História Sagrada e outros devocionais. Além de biografias de santos e santas.
Os indícios
vocacionais de Hermínio surgiram quando esse tinha por volta de 20anos. Teve a
ideia de ser padre, mas não a manifestou por entender que já passara da idade e,
por isso, não seria aceito. O pároco Padre Alexandre Studzinski o encorajou a passar
um tempo no Convento dos Capuchinhos, para ver se poderia ser frade. No início
de 1944, se despediu dos familiares e partiu para o Convento São Boaventura de
Marau, acompanhado do pai Fiorentino.
Foi-se entrosando
com os frades, seu modo de viver, de rezar e trabalhar. Trabalhava na horta,
parreiral, cantina, cozinha e portaria. Agradou-lhe a experiência e firmou o
propósito de levá-la adiante. A breve permanência de Hermínio em Marau foi
suficiente para despertar nos frades uma eloquente admiração. Lembram de sua
figura discreta e recolhida, delicado no trato e prestativo no trabalho, alguém
que rezava a todo instante e passava longas horas na capela com livro ou terço
na mão.
No Convento de
Flores da Cunha, após a experiência com os frades de Marau, participou do ano
de Noviciado. Hermínio foi bem recebido pelos frades, porém com certa
estranheza, devido à sua idade avançada, 32 anos. Ao falar misturava português
e dialeto com conotações típicas, voz aguda e fala mansa. No aspecto físico era
alto, magro, cabelos claros, nariz reto. A mãe esquerda era defeituosa. Olhar
sereno e transparente e rosto discretamente risonho. Modo cortês e simples,
típico do homem da roça. Tornou-se familiar na casa de maneira bastante rápida,
aquela figura leve, recolhida e silenciosa, mas ativa, sempre comunicando
bondade e piedade sincera e notável, despertando admiração e respeito em seus
semelhantes.
Começou o trabalho
espiritual e também o trabalho braçal na horta, na cozinha, disposto a mudar de
vida. A horta era pesada, difícil, e também os outros trabalhos. Talvez, a mão
atrofiada lhe dificultava a labuta. Esteve a ponto de desistir. No princípio, muitas
dificuldades, que foram vencidas pela oração.
Hermínio preparou-se
para o Noviciado com muita dedicação. Assumiu um propósito: “Tornar-se sempre
mais santo.”. E esclarece: “Ser santo não é fazer milagres; é amar a Jesus de
todo o coração e entregar-se a Ele sem reservas; é crer firmemente em seu amor
e fazer unicamente e em tudo a vontade de Deus.”. Ele escreveu: “O trabalho que
é minha enxada, por esta enxada e oração espero chegar ao céu.” Começado o
Noviciado, passou a se chamar Frei Salvador de Casca. Durante o ano de
Noviciado, aprofundaram a vivência capuchinha, bem como o conhecimento da Regra
de São Francisco de Assis.
Na véspera de fazer
os primeiros votos, o mestre Frei Fulgêncio quis certificar-se da sua decisão e
perguntou por quais motivos quer fazer a Profissão religiosa. E Salvador
respondeu: ”Eu quero rezar e
sacrificar-me para me entregar sem reservas a Deus, por sua glória e honra.
Quero ser religioso para salvar muitas almas. E também para rezar e
sacrificar-me pelos sacerdotes e missionária à imitação de Santa Terezinha do
Menino Jesus... Quero rezar e sacrificar-me para que Nosso Senhor mande muitos
irmãos capuchinhos, pois vejo que somos poucos em comparação com o número de
padres e as necessidades que temos.” Fez
a Profissão Religiosa simples como Irmão Leigo na Ordem dos Frades Menores
Capuchinhos da Província do Rio Grande do Sul, no dia 06 de janeiro de 1946. Em
seguida, foi a Garibaldi (RS) e lá residiu por dois anos. Em 29 de janeiro de
1948, retornou a Flores da Cunha, onde no dia 06 de janeiro de 1949 fez a
Profissão solene e definitiva.
Exerceu sua missão como frade capuchinho
durante mais ou menos 27 anos em Flores da Cunha. Faleceu no dia 31 de maio as
18h00min, hora da Ave Maria e véspera da festa de Corpus Christi. Duas devoções
que viveu intensamente: Nossa Senhora e a Eucaristia. Antes de sua morte, três
sacerdotes administraram-lhe a Unção dos Enfermos. Foi sepultado no Cemitério
Municipal, no jazigo dos Frades Capuchinhos. Seu enterro coincidiu com a
procissão de Corpus Christi. Ele dizia: “Sou o que sou diante de Deus.”.
Considerava-se um pecador, e o povo tem convicção de que é um “santo”. Todos o
conheciam como o “Padre Santo”.
Durante mais ou
menos 27 anos de sua missão em Flores da Cunha, o Frei Salvador exerceu
diversas atividades: na cozinha, na portaria, na horta, no jardim, na roça, na
apicultura, na coleta da uva das famílias, na cantina preparando o vinho.
Trabalhava acompanhando os jovens candidatos à vida religiosa. Durante o
trabalho, rezava o terço e outras orações com os companheiros ou fazia momentos
de silêncio. Frei Salvador não vivia ocioso. Quando não estava no serviço,
vivia na capela rezando, semelhante à sua postura quando ainda jovem. O povo
recorda com saudade e carinho o atendimento que ele prestava na portaria,
acolhia a todos com alegria e bom trato. Aos necessitados, antes da esmola
dava-lhes conselhos e mensagens. Repartia com as famílias sementes, mudas de hortaliças,
recomendando que as plantassem acompanhadas de oração e muita fé.
Frei Salvador foi,
por longo tempo, auxiliar de mestre dos Postulantes e Noviços dos Irmãos
Leigos. Visitava, por iniciativa própria, os enfermos nas residências e no
hospital; o Mandato de Ministro Extraordinário da Eucaristia e dos Enfermos foi
instituído no dia 22 de abril de 1970 e entregue no dia 26, juntamente com os
símbolos do ministério. Sentia-se feliz de carregar Jesus pelas ruas e de
levá-lo aos enfermos nas casas e no hospital. Recomendava as orações de todos
para exercer de forma digna o serviço. Tornou-se muito querido do povo neste
trabalho e foi nele que Frei Salvador deixou mais saudade.
Leia sua bela
biografia completa no site www.freisalvador.org.br,
dedicado a este nosso querido santo, com orações e últimas notícias de sua
causa de canonização!
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