Venerável Frei Daniel de Samarate
(٭15/06/1876 - †19/05/1924)
sacerdote e religioso capuchinho
Felice
Rossini nasceu em 15 de junho de 1876, em Samarate, Milão, norte da Itália,
filho de Pasquale Rossini e Giovanna Paccioretti, camponeses. Com 14 anos de idade
entra como aspirante no convento dos Frades Capuchinhos, e passa a se chamar:
Frei Daniel de Samarate. Em julho de 1896 emite seus votos e transferiu-se para
Milão, para iniciar os estudos teológicos. Pediu para ser enviado para a nova
Missão capuchinha nas matas do Norte e Nordeste do Brasil, pois os dois
primeiros missionários capuchinhos morreram, em poucos meses, de febre amarela,
e era preciso substituí-los! Nada espanta o ardor desses jovens pelo Evangelho[1]...No
dia 08 de agosto de 1898, parte para o Brasil na companhia de outros frades.
Chega a Canindé, CE, para o estudos de teologia. Dia 19 de março de 1899, dia
de São José, é ordenado sacerdote.
É transferido para a Colônia Agrícola de Santo Antônio do
Prata, no Pará, como Diretor dos meninos indígenas que habitavam naquele
Colégio. São treze anos ininterruptos de apostolado e grandes realizações
sociais. Sentia-se o pai de todos aqueles colonos e índios.
Era também pároco desobrigante da paróquia de N.S. da
Conceição de Santarém-Novo, distante 100 Km do Prata. Assistiu e construiu a
nova igreja de Cocal, à margem do rio Maracanã. Dedicou-se às extenuantes
viagens de desobrigante, com suas
pregações e confissões até altas horas da noite, e febres maláricas! O
raio da Paróquia extendia-se até 170 Km, abrangendo numerosos e distantes
povoados de penosa penetração, quase isolados um dos outros.
Em março de 1901 abate-se sobre toda a missão a notícia do Massacre
de Alto Alegre (B.67).
Frei Carlos
de S. Martino Olearo, fundador e superior da Missão, perde irremediavelmente a
memória e a capacidade de ação, de modo que toda a administração da Colônia
Agrícola de Santo Antônio do Prata recai improvisamente sobre Frei Daniel,
então com 25 anos de idade. Devia realizar inúmeras viagens de ida e volta para
a capital Belém, a fim de obter recursos governamentais indispensáveis para a
manutenção da Colônia. Será durante esses anos, de 1900 a 1913, de trabalho
incessante no apostolado e no empenho social, que Frei Daniel se contagiará pela lepra.
Consegue
realizar em favor dos índios e dos colonos obras de eficiência e de ampla
projeção. Obtém financiamentos e subvenções tais que lhe permitem instalar no
meio da floresta a linha de ferro, de 17 km, com pontes e aterros, o telefone e
duas Igrejas estupendas: a de Santo Antônio e a de Santo Isidoro. Sente dores
que pensa ser reumatismo, mas os médicos desconfiam que poderia ser a lepra.
Intervém Frei
João Pedro de Sexto (C.42), superior da missão capuchinha, e o manda de
volta à Europa, substituindo-o temporariamente na direção da colônia. Frei
Daniel vai a Lourdes, pedir a cura à Virgem Santíssima. Parte dois dias depois,
transformado, encorajado, abraçando a cruz
que o Senhor lhe dava. Nossa Senhora teria lhe dito que não seria curado, mas
que voltasse, e receberia outra graça...Frei Daniel contará muitas vezes essa
história, esse encontro marcante.
Em Roma o
dermatologista confirma a doença.
Volta ao
Brasil e os Superiores o transferem para São Luís no Maranhão. Em meio ao
trabalho incessante ele sofre um incidente: um tremendo coice de um cavalo
recebido em pleno rosto, faz com que os médicos descubram o seu estado de
leproso. Não pode mais ficar em São Luís, pois as leis de então eram muito
severas com os leprosos declarados. É obrigado a deixar o convento para sempre.
Frei Daniel chora convulsivamente.
Entra para o
leprosário em 27 de abril de 1914. A crise espantosa passou: ele agora está
pronto para o seu Getsêmani. Mas os hansenianos tratavam-no com indiferença e
desconfiança, pareciam não querer sua presença... Recusam-no, chegam a escrever
na sua casinha: “Vai-te embora!”. Aos poucos Frei Daniel se torna o protetor ao
qual todos, ou quase, recorrem; transforma-se aos poucos, sob a ação do
Espírito, num santo mártir que se esquece completamente de si para servir
melhor a causa de Cristo naquele lugar tão tétrico. Torna-se realmente o
capelão do leprosário, o apoio moral e espiritual daquela gente. Aos poucos o
lugar se transforma, graças aos serviços espirituais e materiais proporcionados
por Frei Daniel.
Na casa de
Frei Daniel, no Tucunduba, havia Maria da Penha, classe 1890, jovem cearense,
alta, órfã desde a tenra idade, crescida no prata entre as Irmãs e os Frades,
generosa, devota, orante, apegada a Deus: um anjo, justamente. Com 24 anos
aceita sepultar-se no Tucunduba; é ela mesma que se oferece voluntária às Irmãs
e aos Frades; é ela que parte do Prata alguns dias antes de Frei Daniel entrar
e, quando desponta o dia 27 de abril de 1914, "O Retiro São Francisco
" está limpo, risolho, bem arrumado! Para evitar as más línguas, esse anjo
protetor enviado por Deus resolve se casar com um hanseniano; Frei Daniel é
contra, sofre imensamente, mas ela põe fim às calúnias e continua a servir, amar
com intenso enlevo, tornando-se mãe feliz de quatro meninos completamente
sadios. Nenhum deles jamais adoecerá de lepra! Acompanhou Frei Daniel no seu
calvário, com veneração e heroísmo extremo. Maria da Penha faleceu muitos anos
depois de Frei Daniel, em 1950.
Aos poucos a
doença progride e Frei Daniel vai ficando coberto de chagas; está afetado pela
lepra tuberculosa, a pior que existe, que reduz o doente a um farrapo humano,
sofrimento infernal. Mas, com seu coração sempre agradecido a Deus, dizia que a
lepra que Deus lhe tinha dado era para ele graça comparável àquela da ordenação
sacerdotal.
Todo
consumido e desfigurado, antes de morrer oferece-se a Deus, pede perdão a todos
e promete acompanhá-los sempre com suas orações. Era o dia 19 de maio de 1924.
Sua alma voa aos céus.
Testemunhas
oculares contam curiosos fenômenos que se sucederam por ocasião de sua morte
santa. Em torno do seu rosto corroído havia se formado como uma espécie de nuvenzinha
azul que parecia respirar com ele e que se dissolveu pouco depois do último
respiro. No momento da morte uma revoada de aves levantou vôo; as aves foram e
voltaram repetidas vezes. E os moradores do leprosário afirmavam, mesmo muitos
anos depois, que todas as noites pequenas chamas saíam da casinha de frei
Daniel e da capelinha onde ele celebrava missa. Saíam e vagueavam longamente
por sobre eles, que não se cansavam de observa-las e diziam: “É Frei Daniel que
volta: também esta noite vem nos visitar!”[2]
Oração à Santíssima Trindade pela intercessão de Frei Daniel
PAI, “Senhor do céu e da terra”, que
escolhestes Frei Daniel de Samarate para doa-lo aos pobres e aos Irmãos
Hansenianos do mundo inteiro, concedei-me por sua intercessão a graça que vos
peço...
Glória
CRISTO JESUS, Filho unigênito do Pai e
Redentor nosso, que escolhestes Frei Daniel de Samarate para doar-lhe um
coração abrasado, capaz de servir e de “amar até o fim os seus” Irmãos na dor,
aqueles Irmãos nos quais tão intimamente Vos identificastes, concedei-me por
sua intercessão a graça que vos peço...
Glória
ESPÍRITO SANTO, dom divino do Pai e do Filho,
que escolhestes Frei Daniel de Samarate para anunciar a “Boa nova” aos Pobres e
aos Marginalizados, em favor sobretudo dos Irmãos Hansenianos, concedei-me por
sua intercessão a graça que vos peço...
Glória.
Dies natalis: 19 de maio.
Restos
Mortais: parte de sua
reduzida ossada está guardada
na igreja
dos capuchinhos em Belém, e parte na igreja do Sagrado Coração em Milão, Itália
(Viale Piave, 2).
Causa de
canonização:
sediada na Arquidiocese de Belém do Pará, PA. Ator: Província
Capuchinha do MA-PA-AP e da Lombardia (Itália).
Processo
informativo diocesano iniciado em 29/dez/1991 e encerrado em 30/agos/1997;
processo rogatorial na Arquidiocese de Milão, Itália, encerrado em Samarate, em
19/mar/1997. Decreto de validade no início de 1998; Positio redigida pelo
colaborador frei Cláudio Todeschini; Decreto da Heroicidade das Virtudes em 23/março/2017.
Relator: Mons. Gutierrez; Postulador: Frei Flório Tessari, ofmcap;
Vice-postulador: Frei Apolônio Troesi, ofmcap.
Bibliografia sobre Frei Daniel:
Frei Apolônio TROESI. Aquele
30 de agosto de 1898 nos deu de presente Frei Daniel de Samarate. Belém do
Pará: Vice-postulação de frei Daniel de Samarate, 1997, 133p.
José Messiano Trindade
RAMOS. Entre dois tempos. Belém do Pará: 2002, 75 p.
Para comunicar graças alcançadas pelo
Servo de Deus:
Postulação
de Frei Daniel - Frei Apolônio Troesi
Capuchinhos
– Tv. Castelo Branco, 1541
São
Braz – CxP. 12.000
66090-970
Belém do Pará PA
Tel.:
(91) 3073-1512 / 3073-1500
freidaniele@yahoo.com.br
(e-mail para Frei Apolônio Troesi, ofmcap; residência: Macapá, AP; tel.: (96)
3223-0079 / Fax: (96) 3225-1674 )
[1]
Não deixe de ler as outras biografias da missão capuchinha do norte do Brasil:
o Massacre de Alto Alegre (B.67) e Frei João Pedro de Sexto
(C.42): são causas de contemporâneos e colegas de missão. Ainda da mesma
província, as mais recente: Frei Alberto Beretta (B.92).
[2]
Como lembra Frei Apolônio Troesi, a objetividade do fato não é mais possível
verificar, mas permanece a interpretação dada pelos hansenianos,
atestando a sua fama de santidade: Frei Daniel vinha visita-los e conforta-los
nas suas provações. Cf.: Frei Apolônio TROESI. Aquele 30 de agosto de 1898
nos deu de presente Frei Daniel de Samarate, p. 80-81.
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