Venerável Marcello Candia
nasc. 27/jul/1916 - †31/agos/1983
leigo
A família
Candia era originária de Lachiarella, ao sul de Milão, farmacêuticos desde
muitas gerações. Embora pertencente à burguesia milanesa, era retraída e
dedicada aos compromissos familiares, ao estudo e ao trabalho, mais do que à
vida mundana. Camillo e Luigia casaram-se em 1911, e tiveram 5 filhos. Marcello
nasceu em 27 de julho de 1916, em Nápoles, pois era lá que seus pais moravam
naquele ano, quando o segundo estabelecimento da indústria química Candia
estava sendo ampliado. Os filhos foram educados na severidade, no amor e na
alegria. O pai não era católico praticante, mas totalmente dedicado à família e
ao trabalho. Luigia encarregava-se da educação religiosa dos filhos,
ensinando-os a rezar e, sobretudo, dando o bom exemplo de estarem sempre
atentos às necessidades do próximo. Marcello sempre acompanhava a mãe nas visitas
aos pobres assistidos pelas associações religiosas de Milão. Desde os 12 anos
ele ajudava o capuchinho Servo de Deus Frei Cecílio Cortinovis, com fama de
santo, na distribuição da sopa aos indigentes, que muito o inspirou a doar-se
totalmente na caridade. Através de uma impressionante fotografia colocada no
recinto onde era dada a sopa, conheceu a figura do Servo de Deus Frei
Daniel de Samarate, falecido de hanseníase no Brasil.
A morte da
mãe, por pneumonia, em 1933, foi para o jovem de 17 anos uma verdadeira
tragédia. Esse grande sofrimento foi ocasião para um maior amadurecimento
humano e espiritual. Orientava-se com o capuchinho Frei Genésio, conhecido
diretor espiritual de Milão, que o guiou para a oração, a mortificação e a
caridade.
Dedicado aos
estudos, laureou-se em Química em 1939 e em Ciências Biológicas em 1943,
enquanto preparava-se paulatinamente para assumir a direção da indústria
paterna. Sua atividade era intensa e sempre ligada a obras de caridade mais
diversas.
Na segunda
Guerra Mundial teve que prestar serviço militar por dois anos em Piacenza, onde
era tenente, especialista em explosivos. Terminada a guerra, Marcello
dedicou-se incansavelmente com inúmeros voluntários milaneses nas urgentes
obras assistenciais do pós-guerra. Sua atuação foi decisiva para o
funcionamento da “Vila da Mãe e da Criança”, em Milão.
Uma das
características de Marcello era a capacidade de levar adiante, ao mesmo tempo,
pelo menos três atividades que o absorviam totalmente, cada uma das quais teria
sido suficiente para esgotar o tempo e as energias de um homem comum. Sua vida
era extremamente agitada. Em 1946 assumiu a direção das indústrias. Participou
do surgimento de várias atividades leigas dedicadas às missões católicas fora
da Itália, em especial a fundação da revista “A missão” e de um colégio para
estudantes do terceiro mundo que iam estudar na Itália. Dedicou-se à “União
Médico-Missinonária Italiana”, que depois mudou o nome para “Associação de
Leigos na Ajuda às Missões”. Marcello era um líder, um grande realizador, com
idéias claras na cabeça, mas também humilde, que sabia voltar atrás quando
errava, e sempre com entusiasmo.
Sua grande
vocação eram as missões, e queria dedicar-se pessoalmente a elas, não somente
enviando recursos e ajudas financeiras. Inspirado no exemplo dos amigos, o
capuchinho Frei Alberto Beretta[1], e
o missionário do PIME, Dom Aristides Pirovano, bispo prelado de
Macapá, AP, decidiu partir para esta cidade, para fundar um hospital dedicado
aos pobres da região[2].
Em 1955 a
fábrica de Marcello foi totalmente destruída por uma explosão. Ele perdeu
grande parte de sua riqueza e teve que adiar seus planos de partir para a
Amazônia. Após a reconstrução e a venda da empresa, chegou a Macapá, em 1965.
Nessa mesma época, para tristeza de Marcello, Dom Aristides foi nomeado
superior geral do PIME (Pontifício Instituto das Missões Exteriores), em Roma,
tendo que deixar a prelazia. Com o lucro da venda da indústria, construiu para
os pobres o Hospital São Camilo, e financiou inúmeras atividades assistenciais
em todo o Brasil. Após o retorno de Dom Aristides ao Brasil, em 1977, confiou o
hospital aos cuidados dos padres camilianos e passou a viver na colônia-leprosário de Marituba, na
foz do Amazonas, partilhando sua vida com os hansenianos, ainda mais quando o
governo desativou a cidade-leprosário que ficou praticamente a seu cargo, de
Dom Aristides, e de padres e irmãs. Desde a juventude alimentava o sonho de
ajudar aos leprosos. Quando se fixou em Marituba, dividia sua vida com os
leprosos, sem nenhuma separação ou restrição em relação aos doentes e gostava
de conviver com eles. Os leprosos o tinham como santo, pois viam que fazia tudo
por amor a Deus, não procurava coisas para si, mas estava sempre se preocupando
com todos. Em 1980, o Papa João Paulo II visitou o leprosário, abraçou os
leprosos um por um, e chamando a Marcello de entre eles, deu-lhe um beijo na
testa.
Em 18 anos de
vida na Amazônia fundou e financiou 14 obras de caridade, de educação, de
oração: dois Carmelos de clausura, um grande hospital, um leprosário, uma
escola para enfermeiros, um centro social para hansenianos, uma casa para
deficentes físicos, etc. Marcello, como homem e empresário moderno, não era um
paternalista, mas administrava cuidadosamente seu dinheiro e as grandes
contribuições que recebia de amigos. Era generoso, e não media esforços e
recursos diante da necessidade. Queria que tudo funcionasse com o máximo de
eficiência, e considerava-se um empresário da caridade. Todos os anos,
durante os meses de inverno europeu, visitava a Itália em uma extenuante
maratona em busca de doações e recursos para as obras no Brasil, e em
atividades de animação missionária. Recebeu prêmios de reconhecimento
internacional. Essas obras assistenciais continuam sendo atendidas pela
“Fundação Marcelo Candia”.
Seu trabalho,
porém, não foi um mar de rosas. Sensível e dedicado em tudo o que fazia, sofreu
duríssimas tribulações e incompreensões desde o início, e só perseverou porque
fazia tudo por amor a Deus. Sua visão moderna e dinâmica contrastava com o
ritmo habitual do trabalho missionário, não só no Brasil equatorial, mas também
na Itália, pois muitos não o compreendiam. Doou-se totalmente, sem descanso,
até mesmo quando já estava próximo do fim, vitimado por um câncer, ao 67 anos
de idade. Seus últimos dias de vida se passaram na clínica dos camilianos, em
Milão, na Itália, falecendo na tarde do dia 31 de agosto de 1983, assistido
entre outros pelo então arcebispo, Cardeal Carlo Maria Martini.
Oração
Senhor do universo e
luz dos nossos dias,
mantende viva e clara
a imagem de um amigo que nos ensinou a ver nos pobres, nos hansenianos e em
todos os necessitados os irmãos de Cristo, filhos do mesmo Pai.
Hoje nós apreciamos o
Doutor marcello Candia por sua coragem na ação, sua perseverança na dedicação,
sua discrição no testemunho e sua apaixonada devoção à Cruz.
Senhor da nossa
esperança, vos pedimos com humilde insistência podermos imitar o seu exemplo em
seguir Vosso plano de Amor.
Senhor do mistério e
da confiança: concedei-nos podermos um dia chamar de santo o Doutor Marcello
Candia. Amém.
Dies
Natalis: 31
de agosto
Restos
Mortais:
Marcello queria ser sepultado no jardim do Carmelo de Macapá, mas por ter
falecido em Milão, Itália, lá foi sepultado, no cemitério de Chiaravalle; foi
trasladado em 6/abril/2006 para a Igreja paroquial dos Santos Anjos da Guarda,
na mesma cidade (endereço da Fundação Dr. M. Candia, abaixo).
Causa
de canonização:
sediada na Arquidiocese de Milão, Itália. Ator: Fundação Doutor Marcello
Candia.
Início
do Processo Informativo diocesano em 12/jan/1991 e encerramento em 8/fev/1994.
Publicação da POSITIO em 15/jul/1998; decreto da Heroicidade das Virtudes em 8/julho/2014. Postulador: Pe. Piero Gheddo (Pontificio
Instituto Missioni Estere - Via Guerazzi, 11 - 00152 Roma – Itália; gheddopiero@libero.it).
Bibliografia
sobre o Servo de Deus Marcello Candia:
Piero GHEDDO, Marcello
Candia, o empresário dos pobres. Florianópolis: Publicação de “Missão
Jovem” (PIME), 2a.ed.. (Pedidos à “Missão Jovem”, endereço PIME,
abaixo)
Sites
oficiais:
Fundação
Candia (em italiano): www.fondazionecandia.org
(ver biografia e fotos)
Missão
Jovem: www.missaojovem.com.br;
e-mail: misjovem@missaojovem.com.br
Para
comunicar graças por intercessão de Marcello Candia e outras informações:
Na
Itália:
Fondazione Doutor Marcello Candia
Via Pietro Colletta, 21
20135 - Milano - Itália
No Brasil:
Irmãs
Carmelitas (Ir. Nazarena)
Carmelo de Macapá
Av.
Mãe Luzia, 1335
CxP
99
68900-110
- Macapá - AP
Tel.: (96) 3223-4674
[1] O
médico e sacerdote capuchinho Frei Alberto Beretta (B.92) construiu o
hospital de Grajaú, no Maranhão, em meio a imensas dificuldades e totalmente
voltado ao atendimento dos desassistidos. Ele é o irmão de Santa Gianna
Beretta Molla, médica italiana que desejava ser missionária leiga nesse
mesmo hospital, mas que teve que abandonar a idéia por causa da saúde. O
milagre válido para a beatificação de Santa Gianna ocorreu nesse hospital
(sobre santa Gianna e os milagres da beatificação e canonização, ver p. 183s.).
[2]
Trabalharam na cidade de Macapá os Padres da Sagrada Família, inclusive Pe.
Júlio Maria de Lombaerde (B.75), que ali fundaria uma congregação feminina,
transferida depois para Pinheiro, PA.
|