Venerável Ir. Serafina Cinque
(٭ 31/01/1913 - †21/10/1988)
religiosa adoradora do sangue de Cristo
A família
Cinque, de Salerno, região da Calábria, Itália, veio se estabelecer em
Urucurituba, distante cerca de 100 km, em linha reta, de Manaus, AM, por causa
do “ouro negro”, a borracha, então cultivada nos seringais nativos da região. A
desilusão foi grande, pois chegaram em 1910, fim do ciclo da borracha. A crise
se abateu sobre toda a Amazônia.
Os Cinque se
dedicaram então ao cultivo do cacau e com incessante trabalho logo se tornaram
um dos maiores proprietários de plantações dessa cultura, e adquiriram também
uma grande loja para comércio de tecidos e estivas.
O casal
Vicente e Sarah teve 13 filhos, e Noeme foi a segunda a nascer, aos 31 de
janeiro de 1913, na vila de Urucurituba.
Peralta
demais, aos 11 anos, o pai internou-a no Colégio de Santa Dorotéia, em Manaus.
As irmãs conquistaram o seu coração
adolescente e a prepararam para uma vida cristã ardorosa. Aos dezesseis anos,
pediu aos pais para se tornar religiosa. Estes, ricos comerciantes, não
concordaram.
A família
mudou-se para Manaus, e Noeme começou a freqüentar a igreja de São Sebastião,
administrada pelos padres Capuchinhos da Úmbria, Itália[1].
Tornou-se catequista dedicada. Aos 21 anos, formou-se professora, trabalhando
em Tabocal, Urucurituba e Manaus, onde não era somente professora, mas também
catequista, preparando a comunidade local para os sacramentos.
Em 1942,
durante a Segunda Grande Guerra Mundial, com a perseguição aos imigrantes
vindos da Alemanha, Itália e Japão, também Noeme, filha de italianos, e sua
família, foram duramente hostilizados[2].
Esses sofrimentos parece apressaram a morte de dona Sarah, mãe de Noeme, que
faleceu em janeiro de 1945. Como filha mais velha, ela foi incumbida pelo pai
dos cuidados da família, sobretudo orientar a educação dos irmãs e irmãs mais
jovens.
Sempre muito
ativa junto aos trabalhos paroquiais, Noeme tornou-se de Atendente de
Enfermagem, em 1943.
Em 1946, as
Irmãs Adoradoras do Sangue de Cristo, da Província de Wichita, Kansas, EUA,
visitaram Manaus e outras cidades. Julgaram oportuno admitir jovens brasileiras
para serem religiosas e assim criar condições para poder abrir um convento na
Amazônia futuramente. Distinguindo em Noeme a candidata ideal, convidaram-na
para ir a Wichita. Noeme tinha 33 anos: poderia agora realizar seu antigo
ideal! Superou as grandes dificuldades culturais da língua, clima, costumes.
Seu pai por fim aconsentiu ao seu desejo.
Noeme entrou para o noviciado e recebeu o nome de Irmã Serafina. Regressou ao Brasil em novembro do mesmo ano. As
primeiras religiosas americanas já haviam chegado no natal do ano anterior, e
presença de Ir. Serafina foi fundamental para os contatos burocráticos,
conseguir doações e recursos necessários, além de ser o elo de ligação natural
das irmãs americanas e o grande número de vocações.
O fio
condutor de sua vida foi a busca da vontade de Deus, docilidade em aceitar e
cumprir as várias obediências que suas superioras lhe pediram ao longo da vida.
Em março de 1949 tornou-se Diretora do Ginásio de Coari. Como verdadeira
educadora, lecionava e cuidava de perto dos alunos e dos internos. Em 1954 foi
enviada como superiora a Codajás; em 1957, superiora em Altamira, onde iniciou
a Escola Normal Rural, para formação de professores daquela cidade; 1959 em
Santarém, Pará, para implantar o Ginásio Normal; 1961 em Coari, como assistente
das junioristas e professora do Curso Pedagógico, que exigia professoras mais
bem preparadas; 1963, em Manacapuru, como professora e secretária do Curso Pedagógico.
Em 1959 ,
havia sido eleita delegada ao Capítulo Geral, por isso foi a Itália, país de
origem de sua família e também da fundadora de sua congregação, Santa Maria de
Matias[3]. A
viagem a marcou muito, e para sempre insistiria com suas irmãs religiosas sobre
a necessidade de estar em sintonia com a Igreja Universal.
Em 1965 a
congregação já contava 135 religiosas em 20 comunidades na Amazônia, sendo
elevada à condição de Província.
Em 1966 foi
enviada a Olinda do Norte, prelazia de Borba, AM, lugar que significou uma
mudança de direção no seu apostolado, pois manifestou-se sua predileção pela
área da saúde. É que além de professora, passou a se dedicar ao extenuante
trabalho do ambulatório, carente de médicos e recursos, palco de muitas mortes
e sofrimentos. Irmã Serafina era parteira na maternidade e prestava serviços
gerais no ambulatório, além de levar muitos doentes graves à Manaus,
enfrentando essas viagens de barco e imensas dificuldades para socorrê-los.
Fazia de tudo pelos seus doentes.
Anos e anos
de muito trabalho e pouco descanso fizeram com que caísse tuberculosa em 1969.
Por obediência teve que passar todo esse ano recuperando-se na sede provincial
em Manaus, e depois em Marituba, próxima a Belém, PA, até ir para Altamira em
1972.
Foi aí que
Irmã Serafina dedicou-se à Pastoral Social da Prelazia do Xingu[4].
Os doentes no ambulatório da paróquia vinham da cidade de Altamira e das
comunidades ribeirinhas do rio Xingu. Participou das violentas transformações
da região na época da construção da Transamazônica, iniciada em 1970.
Latifúndios, grilagem e exploração... tudo isso transformou o sonho de milhares
de imigrantes em pesadelo. Altamira passou de 14.800 habitantes em 1970, para
126.208 habitantes em 1994.
Espalhadas
nos travessões (estradas vicinais) da Transamazônica, famílias de agricultores
pobres enfrentavam uma dura realidade: no momento de dar à luz, muitas mulheres
tinham que se arriscar na viagem até Altamira, e lá os hospitais sem recursos
só atendiam quem já estivesse em trabalho de parto. Abandonadas e sem dinheiro
para voltar a casa, Irmã Serafina começou a recebê-las no ambulatório, e depois
em outras salas sucessivamente. Também outros doentes abandonados pediam ajuda,
e assim, Irmã Serafina dedicou-se totalmente a esse trabalho até o fim de sua
vida. Venceu desafios humanamente insuperáveis, e conseguiu que fosse
construído um pavilhão para acolher as gestantes: a “Casa Divina Providência”,
em 1984. Continuamente ela pedia donativos e víveres para os seus assistidos,
sendo muitas vezes hostilizada por isso.
Jornais e
revistas do Pará e de outros estados a chamaram de “Anjo da Transamazônica”,
por seu nome, Serafina.
Tendo
adoecido, em 1987, de câncer nos gânglios linfáticos, veio a falecer em 21 de
outubro de 1988, em Manaus, mas sua obra continua até hoje, graças a dedicação
das Irmãs Adoradoras do Sangue de Cristo, em Altamira.
Oração
Ó Deus, que amas
tanto a humanidade pela qual
Teu Filho Unigênito
derramou o Seu Sangue Preciosíssimo, nós Te agradecemos pelos dons concedidos à
Irmã Serafina Cinque, ASC, à qual fizeste compreender o valor da pessoa humana
e servir-Te nos pobres, doentes e gestantes.
Pelos méritos do
Preciosíssimo Sangue de Jesus Cristo e pela intercessão de Tua serva fiel,
concede-nos a graça
que confiantes Te pedimos, Senhor.
( Com fé pede-se a
graça e reza-se: Pai-Nosso, Ave Maria,
Glória ao Pai)
Bendito e louvado
seja o Sangue de Nosso Senhor Jesus
Cristo!
Para sempre seja
louvado.
Dies natalis: 21 de outubro
Restos Mortais: na igreja da Imaculada
Conceição, em Altamira, Pará.
Causa de Canonização: sediada
na Arquidiocese de Manaus, AM. Ator: Congregação das Irmãs
Adoradoras do Sangue de Cristo (ASC) – Região Brasil.
Processo
informativo diocesano iniciado em 07/07/2000 e encerrado em 29/09/2003 (foram
ouvidas 50 testemunhas). Decreto de validade em 2004. Postuladora: Ir. Maria
Paniccia, ASC; vice-postuladora: Irmã Marília Menezes, ASC. Decreto da Heroicidade das Virtudes em 27/janeiro/2014.
Bibliografia sobre a SD. Irmã Serafina:
Menezes, Irmã Marília, ASC. Irmã
Serafina, ASC – o ‘Anjo da Transamazônica’ . Roma: CISasc,1999 (pedidos no
endereço abaixo)
Siqueira, Antônio Juracy. Irmã
Serafina – o ‘Anjo da Transamazônica’ (em
literatura de cordel) Belém do Pará: 2001
Para comunicar graças alcançadas:
Convento Preciosíssimo Sangue
Av.
Constantino Nery, 1751 – São Geraldo
Caixa
Postal 385
69011-970 Manaus
AM
Tel.:
(92) 3233-7411 / 3233-9707
Novo endereço de Ir. Marília Menezes:
Casa Merleiri
R. Tomásia Perdigão, 202
66020-610
Belém - PA
[1]
Nessa paróquia iria trabalhar, a partir de 1947, Frei Miguel Ângelo Pigotti (C.46). Ir. Marília Menezes, postuladora
de Irmã Serafina, seria um dia também vice-postuladora de Frei Miguel Ângelo.
[2]
Ver a biografia de Pe. Olívio Giordano (B.79), que chegou a ser preso
por uma noite nessa situação.
[3]
Canonizada em 25/11/2001.
[4]
Nessa mesma época começava a trabalhar na prelazia do Xingu Irmã Dorothy
Stang (B.152), martirizada em 2005.
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