Maria Concetta Farani aprendeu, no sofrimento, como perdoar, e transmitiu a sua mãe e irmãs em primeiro lugar e depois as suas co-irmãs passionistas, o grande dom de saber perdoar sempre. Este foi o objetivo de sua vida.
Seus pais eram italianos e vieram para o Brasil, primeiro o pai, Giuseppe Farani, e mais tarde a mãe, Rafaela Milito, fixando-se em Curitiba , PR. Estabeleceram-se como comerciantes de tecidos, chegando a acumular uma razoável riqueza, fruto de trabalho honesto e operoso.
À Maria, nascida em 26 de julho de 1906, primeira filha, sucedeu Rosa Beatriz e Giovanni. Mas quando o casal aguardava o nascimento do 4º filho,uma grave e repentina pneumonia levou Giuseppe, deixando a dor na família. Era o dia 16 de setembro de 1913. Dois meses depois nasceu uma menina, que recebeu o nome de Josefina.
O grande golpe surgiu quando Rafaela, atormentada pela perda, foi procurada por pessoas que se apresentaram, aparentando retidão e vontade de servir, como responsáveis por assuntos de herança e lhe solicitaram sua assinatura. Sem ter lido o conteúdo, confiante, ela assinou ao pé da folha, agradecendo pela ajuda que estava recebendo. Tais senhores desapareceram e, dias depois veio a saber que assinara a bancarrota de seu marido, confirmando que ele deixara mais dívidas que lucros: era a falência que incluía todas as suas propriedades. A sentença judicial obrigava-a a deixar a casa com todos os seus pertences, acomodando-se em uma pequena casa, de favor, e procurando trabalho para sustentar seus filhos. Mais uma vez foi procurada pelos “dignos senhores”, para nova assinatura; mas ela, alertada, nada assinou, conseguindo assim salvar alguma coisa tempos depois, na justiça. Para indenizar a falência no momento, seus pertences pessoais, o estoque das lojas, tudo foi arrematado em leilão por preços irrisórios. Na miséria a que foi submetida, à falta de recursos, seu filhinho Giovanni não resistiu e morreu.
Algum tempo depois Rafaela veio a saber que seu cunhado Nicolau, irmão de Giuseppe, e sua esposa Angélica, ambos padrinhos de batismo de Maria, estavam envolvidos na traição, naturalmente sendo beneficiados com sua desgraça. Estes parentes chegam a se apresentar a Rafaela, confessam seu envolvimento e pedem perdão. Rafaela apenas diz: “Não te posso perdoar, que Deus te perdoe”. Maria, que havia assistido a cena, ficou perturbada e procurou com muito fervor, diante do sacrário, ajuda para tão grande dor; e o silêncio de Deus, o silêncio que ensina o perdão, despertou em sua alma e se instalou para sempre, fazendo dela a “Apóstola do perdão”.
Por esta ocasião, Maria foi aprovada em concurso para professora e nomeada para uma escola na zona rural, na Várzea do Capivari, para onde a família se mudou. Mais tarde sua irmã Rosa Beatriz também conseguiu cargo semelhante, melhorando sensivelmente a situação financeira da família.
No ambiente de trabalho, Maria entrou em contato com os Padres Passionistas que davam assistência religiosa na região. Uma manhã, quando em Curitiba, durante a missa, voltada para o altar, vendo a Hóstia consagrada na elevação, percebeu a grande mensagem nas palavras “para o perdão dos pecados”. Saindo da igreja foi procurar seus padrinhos, que a receberam com carinho e repetiram o pedido de perdão. A resposta foi simples; “Deus nos ama, tudo perdoado”. Ao contar a sua mãe o que havia feito, ela também se predispôs, totalmente, ao perdão.
Algumas dificuldades e tropeços ainda se apresentaram, mas a família sempre contando com a proteção divina, tudo superou.
Com decisão judicial a seu favor puderam receber o que ainda restava dos bens do pai, e assim sua mãe e suas irmãs voltaram para a Itália, sua terra natal. Nessa mesma época, a jovem Maria seguia outro caminho: tocada pelo Espírito Santo ao receber o sacramento da crisma em 17 de fevereiro de 1926, aceitou o chamado de Deus e entrou na Congregação das Irmãs Passionistas. Recebeu a vestidura em 14 de agosto de 1927, véspera da festa da Assunção. Em dezembro do mesmo ano fez seus votos secretos e um ano depois, os votos públicos. Passou a chamar-se Irmã Antonieta de São Miguel Arcanjo.
A Congregação das Irmãs Passionistas foi fundada pela Marquesa Maria Madalena Capponi, em 1771, em Florença, Itália. Seu carisma é “Anunciar oEvangelho da Paixão com a vida e o apostolado”. As irmãs devem viver total união com Jesus Crucificado, tanto na oração como no trabalho cotidiano, dedicando-se e à obra educativa e assistênciaa menores carentes. Seu trabalho também se desenvolve em hospitais, asilos e atividades paroquiais. As irmãs passionistas estão no Brasil desde 7 de dezembro de 1919.
A atividade de Maria Farani, agora Irmã Antonieta, se tornou intensa, passando do cuidado com crianças, delinqüentes, idosos, doentes, sempre intercalando horas seguidas de oração e adoração diante do sacrário. Passou por várias casas da Congregação, seja como superiora de Hospital, seja de Colégio ou Asilo. Em carta para sua mãe diz: “Minha felicidade não mudou!... Vou de um lugar para outro, de um ofício para outro e minha alma não se move do seu centro. Deus está em nós e nós Nele”.
Após a profissão perpétua, depois de muita insistência, com a anuência da Superiora Provincial, conseguiu de seu confessor a licença de emitir o Voto do Amor. Por esse voto, nada mais faria a não ser movida pelo amor mais puro e consagrado ao Divino Esposo
Sua vida foi profundamente marcada pela Eucaristia, e esta sempre lhe falava do perdão de Deus. Sua maior alegria era permanecer diante do sacrário, e saber que vivia sob o mesmo teto que Jesus sacramentado, respirando e vivendo nessa mesma atmosfera.
Como Conselheira ou delegada para os capítulos gerais da Congregação, Irmã Antonieta por três vezes teve que viajar à Itália, onde reencontrou a mãe e as irmãs. Após ter sido nomeada Superiora Provincial das Irmãs passionistas no Brasil em 1º de janeiro de 1963, sente os primeiros sintomas de uma grave doença: um tumor no cérebro, que a deixou cega. Apesar do mal contraído, como superiora continuava a orientar suas religiosas. Seu sofrimento é silencioso, todo entregue a Cristo Crucificado; ela se sente presa, também na cruz, junto a Ele. Também com Jesus, entregou o perdão e imolou-se pelos pecadores.
Consciente que está no fim, se dispõe toda ao Divino Salvador e, recebendo o Viático, se entrega a Deus: é o dia 7 de maio de 1963.
Seu corpo foi levado para o cemitério São Paulo, no jazigo da Congregação. A 4 de fevereiro de 1980 processou-se a transladação da urna para a capela do Colégio Santa Luzia, onde ela iniciou sua vida religiosa. Junto à urna uma placa de bronze com os dados essenciais da sua vida e a frase extraída do seu diário: “Perdida no oceano imenso de suas graças”.
Irmã Antonieta deixou páginas de grande fervor e amor em seu diário, como também cartas dirigidas a sua mãe. Sua devoção à Maria Santíssima e à Eucaristia se refletem em doces orações que podem também nos levar ao grande amor de Deus.
Oração
Ó Jesus, que do seio do Pai, trouxestes à terra o fogo do Vosso Amor,
desejando ardentemente incendiar todos os corações e com ele abrasastes o coração de vossa fiel serva Irmã Antonieta, transformando sua vida num holocausto de amor para convosco e para com os irmãos, concedei-me a graça de Vos amar acima de tudo e de todos e de imolar-me para a salvação de meus irmãos, assim como
Vós vos entregastes à morte por mim.
Dignai-vos glorificar vossa serva Irmã Antonieta, e concedei-me por seus méritos e por sua intercessão a graça ... (pedir a graça desejada), que humilde e confiadamente Vos peço. Amém.
Dies natalis: 7 de maio
Restos mortais: na capela do colégio Santa Luzia (R. Cônego Eugênio Leite, 825, São Paulo, SP)
Para visitação dos fiéis:
Casa da Memória
Rua Bom Jesus, 881
80035-109Curitiba PR
Tel.: (041) 252-4663
Causa de canonização: sediada na Arquidiocese de São Paulo. Ator: Congregação das Irmãs Passionistas.
Nihil obstat em 11/maio/1982; processo informativo diocesano iniciado em 13/out/1982 e encerrado em 26/dez/1985, tendo como postulador o Pe. Boaventura Mansur Guerios, passionista. Após elaboração da POSITIO, aprovação pela comissão dos consultores teólogos em 28/jan/1992 e dos Padres Cardeais e Bispos em 28/abr/1992; Decreto das Virtudes Heróicas em 13/jun/1992.
Bibliografia sobre a Venerável Me. Antonieta Farani:
Ven.Antonieta FARANI. O amor Filial Vence Distancias: Cartas à mãe 1927-1947. São Paulo: Editora Ave Maria, 1989.
Pe. Afonso de SANTA CRUZ. A freira do perdão. Curitiba: Edições Rosário, 4a. ed., 1982, 173 p.
Pe. Silvio MAZZAROTTO, cp. A cantora do Amor. São Paulo: Editora Ave Maria, 1990.
Uma vida de amor (Biografia em quadrinhos). Irmãs Passionistas, 1997.