Beata Francisca de Paula de Jesus (Nhá Chica)
(1808 - 14/06/1895)
Alta, morena e bonita, Francisca de Paula de Jesus, ou Nhá Chica, como era chamada por todos, nasceu em 1808, na "Porteira dos Vilellas", fazenda de Santo Antônio do Rio das Mortes Pequeno, povoado a seis léguas de São Del Rei, Minas Gerais. Foi batizada em 1810, conforme livro de assentos da paroquia. Francisca teve apenas um irmão, Theotônio Pereira do Amaral, que nasceu provavelmente 4 anos antes, em 1804.
A família mudou-se para Baependi e instalou-se numa casinha na Rua das Cavalhadas, hoje Rua da Conceição. Nesta casa iria viver a maior parte de sua vida a Serva de Deus.
Pouco tempo depois morreu dona Izabel, e Nhá Chica ficou orfã, com apenas dez anos. Seu irmão Theotônio, porém, galgou as alturas do poder político, judicial e militar da vila de Baependi, chegando a ser Vereador, Juiz de Vintena e Tenente da Guarda Imperial. Era negociante. Tinha também marcada presença na religiosidade Baependiana sendo membro da mesa da Irmandade de Nossa Senhora da Boa Morte, entre outros. Era casado com Leonora Maria de Jesus e não deixou descendência, fazendo de sua irmã a sua herdeira universal.
Embora pudesse acompanhar seu irmão ou casar-se, preferiu morar em sua casinha e dedicar-se a Deus e às pessoas mais necessitadas. Morrendo, sua mãe lhe recomendara a vida solitária, para melhor praticar a caridade e conservar a fé Cristã. Seguindo esse conselho ela não deixou a casa onde vivia, recusando o convite do irmão que a chamava para sua companhia. Cresceu isolada do mundo, dedicando-se à caridade e à fé.
Rapazes do seu tempo pediram-na em casamento, mas recusou a todos. Tornou-se até muito amiga do que mais insistira, grata pela suas boas intenções.
Sua única companhia era o escravo liberto, Félix, que cuidava dos trabalhos e dos afazeres da capela. Era ali que ela recebia todos aqueles que acorriam ao seus conselhos e as suas orações. Nhá Chica fazia suas preces à Sua Sinhá, como ela chamava Nossa Senhora, representada numa pequenina imagem da Senhora da Conceição, de terra cota, até hoje conservada em sua casa. Sua casa é a imagem de sua vida pobre e dedicada aos pobres.
Pouco a pouco sua fama foi aumentando, porque dava sempre ótimos conselhos. Para todos ela tinha palavras de consolação e de conforto, a promessa de uma oração, a predição do resultado de uma empresa ou um socorro material." Nela cumpre-se a palavra do Evangelho: "Eu te louvo, ó Pai, porque escondeste estas coisas aos sábios e entendidos e as revelaste aos pequeninos".
Ainda moça Nhá Chica já era a “mãe dos pobres”: tinha o piedoso costume de convidar os pobres e demais moradores daquela redondeza em determinado dia da semana para com ela elevarem preces à Virgem Mãe de Deus... Após as orações, ela distribuía alimentos aos pobres, pois todos já levavam para isso suas vasilhas. Recebia esmolas e dava esmolas... Ninguém batia a sua porta sem receber em troca alguma ajuda em pedidos e pedidos e orações.
Serviço e oração eram as características da vida de Francisca de Paula de Jesus. O pároco de Baependi assim a definiu certa vez: "Nhá Chica é simplesmente uma pobre mulher analfabeta, uma fiel serva de Deus cheia de fé". Mas ela respondia dizendo: "Eu repito o que me diz Nossa Senhora e nada mais: eu rezo a Nossa Senhora, que me ouve e me responde".
“Nunca senti necessidade de aprender a ler”, dizia ela. “Só desejei ouvir ler as escrituras santas; alguém fez-me esse favor, fiquei satisfeita”.
Ainda uma outra grande devoção povoava o coração de Nhá Chica. Guardava especial devoção às três horas de agonia, e nas sextas-feiras recolhia-se em oração. Toda sua vida Nhá Chica procurou realizar o que ela dizia ser um pedido de Nossa Senhora: a construção de uma Capela. Era um empreendimento caro demais para uma mulher pobre daquele tempo, ainda mais sendo filha de escrava. Ela saia, então, pela vizinhança, pedindo auxílio para a construção. Aos poucos a notícia correu e logo começou a receber de todas as partes esmolas para este fim. Ela pode também usar a herança que recebeu de seu irmão, e sua obra chegou a bom termo.
A construção foi iniciada em 1865. Quando já tinha uma certa quantia, Nhá Chica recebeu a ordem de Nossa Senhora para dar início aos trabalhos. Chamou um oficial de pedreira, que deu início a capela que media 34m e 35cm de comprimento por 8m e 20cm de largura. A ornamentação foi quase toda doada: imagens, alfaias, vasos, lâmpadas e até um órgão.
A biógrafa da Serva de Deus, Helena Ferreira Pena, conta que "...estando já o serviço a certa altura, o oficial notou que ia faltar material e disse-lhe: - Nhá Chica, os adobos não vão chegar! Ela respondeu: 'Nossa Senhora é quem sabe'. Continuou o serviço, e ao terminar, não faltou e não sobrou um só tijolo. Estava quase terminada a capela e o oficial advertiu Nhá Chica: - Precisa algumas pinturas no forro, não ficaria bem assim liso sem alguma decoração. Ela como sempre respondeu: 'Nossa Senhora é quem sabe'... E foi entregar-se as suas meditações. À tarde, quando o oficial ia deixar o serviço, Nhá Chica disse-lhe: - Alisa bem a areia que está no quartinho, tranca a porta e leva a chave. O oficial pensou consigo: 'Essa velha tem cada coisa! Se os ratos vão passear na areia eu terei que fazer estes rabiscos no forro!' No dia seguinte, ao chegar novamente ao serviço, Nhá Chica ordena: 'Toma um lápis e um pedaço de papel e vamos abrir a sacristia'. Mandando que copiasse o que estava na areia, eis que copiando aqueles traços reproduziu uma 'custódia sobre as nuvens', cuja pintura foi feita a óleo no teto da capela mor da Igreja'.
Mais um fato extraordinário é narrado pela mesma biógrafa:
"Estava terminada a capela, mas Nossa Senhora queria mais alguma coisa.
Manifestou a sua serva o seu desejo: - Queria um órgão para a Igreja. Nhá Chica, porém, na sua ingenuidade, não sabia o que era aquilo. Foi consultar, então, o vigário local, Mons. Marcos Pereira Gomes Nogueira o que era órgão, que N. Sra. queria para a capela. Mons. Marcos lhe disse: - Orgão é um instrumento até muito bonito que toca nas Igrejas mas, para isso, precisa muito dinheiro!... - Mas N. Sra. queria. Na Rua São José, casa 73, no Rio de Janeiro, chegou um, assim disse ela. Mau Nhá Chica tinha manifestado o desejo de N. Sra., começou a chegar espontaneamente a suas mãos, esmola para a compra do desejado instrumento. Foi, então, encarregado da compra o Sr. Francisco Raposo, competente maestro. Foi ao Rio de Janeiro para efetuar a compra e fazer o despacho até Barra do Piraí, pois, de lá aqui, teria que vir em carro de bois, por não haver ainda estrada de ferro. Chegara enfim o órgão e Nhá Chica marca sua inauguração para as três horas da tarde e, para isso, fez ecoar nos ares o som do sino da capela, convidando o povo para entoar louvores à Maria! Chegam os devotos e logo a capela se enche. O maestro sobe ao coro e desliza suas mãos sobre o teclado, e qual sua surpresa? Nem uma nota!... - O que teria acontecido? Com certeza estragou-se com a viagem, com a longa caminhada em carro de bois, diziam uns. - Qual! Com certeza venderam coisa velha e estragada, diziam outros. Nhá Chica chorava... cheia de angústia e aflição!... Teria sido enganada? Acalma-se, porém, e diz: - Esperem um pouco. Tira dos pés as chinelinhas de couro e vai prostrar-se aos pés da Virgem. O povo esperava ansioso... Ela volta calma e serena e diz: - Podeis voltar para suas casas, porque o órgão não tocará hoje, mas amanhã, às três horas. Sexta feira, dia da devoção de Nhá Chica. - Nossa Senhora quer que entoem a ladainha. Assim se fez. No dia seguinte, novamente, o sininho soava nos ares chamando os fiéis que desta vez foram em número maior, movidos pela curiosidade. E, às três horas em ponto de sexta-feira, o maestro, novamente, deslizando suas mãos sobre o teclado, fez ecoar, pela primeira vez por toda a Igreja, ao som do órgão a linda melodia da ladainha à Nossa Senhora!... As lágrimas desciam dos olhos de Nhá Chica, mas desta vez, foram lágrimas de alegria e de felicidade!...". Hoje, total e recentemente restaurado, o órgão encontra-se no coro da Igreja da Conceição, emitindo seus sons e acompanhando o louvor de Deus e de sua Mãe Santíssima.
Nhá Chica viveu sempre na sua casinha perto da Igreja de Nossa Senhora da Conceição em oração, humildade, mortificação, além de sofrimentos físicos, atendendo sempre quem a procurava. Podemos intuir que serena e feliz partiu desta terra, onde viveu em pobreza e humildade atraíndo as pessoas pelos dons que recebera de Deus. Aos 08 de julho de 1888, estando doente e de cama Nhá Chica fez o seu testamento e aos 14 de Junho de 1895 faleceu com mais de 80 anos e foi sepultada somente no dia 18. Seu semblante não apresentava sinais de morta, o que deixou o médico local em dúvida. Assim o Dr. Manoel Joaquim Pereira de Magalhães não deixou efetuar o seu sepultamento no dia seguinte, como erra o costume. Mandou ficar em observação por mais algumas horas. E aconteceu que um chamado urgente de um município vizinho afastou o médico da cidade, ficando então o corpo da Serva de Deus, insepulto por mais de três dias, sem se decompor, esperando pelo médico.
Grande foi o número de pessoas que acorreram. De toda parte vinham para visitar o corpo daquela que, em vida, distribuía graças e benefícios a quantos a procuravam. Era uma procissão do lugar do engenho até a capela de Nossa Senhora da Conceição, num vai-vem constante, isto durante os quatro dias em que seu corpo esteve exposto.
Todos puderam atestar que não manifestou traços de decomposição, apesar de já estar morta a quatro dias.
Segundo seu desejo, expresso em seu testamento, foi enterrada na capela que construíra: "Declaro que meu enterro será feito dentro da Igreja de Nossa Senhora da Conceição, com funeral e música".
Sua memória não se extinguiu com a missa de sétimo dia, ao contrário, seus restos mortais, no interior da Igreja da Conceição, vêm sendo visitados e venerados por centenas de fiéis de todo o Brasil e outros países. Aí esteve sepultada por 103 anos (1895-1998) e é nela que se encontra hoje a urna com seus restos mortais, desde a exumação acontecia em junho de 1998, ato pertencente ao processo de Beatificação e Canonização. Esta mesma capela passou ao longo do tempo por várias reformas até chegar ao estado em que se encontra hoje.
Tudo isso a fez eleita do Senhor e modelo de Santidade para todos: leigos e religiosos, pois a santidade não é previlégio mas mandamento do Senhor Jesus: "Sede perfeitos como vosso Pai celeste é perfeito" (Mt 7,48).
Novena à Imaculada Conceição
(composta por Nhá Chica e muito usada pelos seus devotos)
Virgem da Conceição, vós fostes aquela
Senhora que entrou no céu vestida de sol, calçada de lua,
coroada de estrelas, cercada de anjos. Vós prometestes ao Anjo Gabriel que havíeis de socorrer a todo aquele que invocasse o seu santo nome.
Agora é a ocasião, valei-me Senhora da Conceição!
(faz-se o pedido e reza-se uma Salve Rainha, que era
a oração predileta de Nhá Chica).
Oração
Deus, nosso Pai, vos revelais as riquezas de vosso Reino aos pobres e simples. Assim agraciastes vossa serva Francisca de Paula de Jesus, Nhá Chica, com inúmeros dons: fé profunda, amor ao próximo e grande sabedoria. Amou a Igreja e manteve uma terna devoção à Imaculada Conceição.
Por sua intercessão, concedei-nos a graça de que precisamos..... E dai-nos a alegria de vê-la elevada à honra dos altares.
Por nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, na unidade do Espírito Santo. Amém.
( Campanha, 04 de outubro de 1.998. + fr. Diamantino P. de Carvalho, ofm
Bispo Diocesano da Campanha.)
Informações :
Restos mortais: no interior da Igreja de Nossa Senhora da Conceição, em Baependi, MG (exumação em 18/jun/1998, e acomodação em urna funerária próxima ao antigo túmulo em 2/agosto seguinte).
Para visitação dos fiéis: Casinha onde viveu e Memorial Nhá Chica (história e objetos pessoais de Nhá Chica; aberto todos os dias da 8 às 12h, e das 13 às 17h, no endereço abaixo).
Causa de canonização: sediada na Diocese de Campanha, MG. Ator: Associação Beneficente Nhá Chica.
Início da Campanha pela canonização em 1952; Instalação da Comissão em prol da Beatificação em 24/08/1989; Nihil Obstat em 14/01/1992; Processo informativo diocesano iniciado em 16/julho/1993 e encerrado em 1995, quando foi para Roma; Relator: Pe. José Luiz Gutiérrez. A causa ficou parada até 1998, quando assumiram como Postulador Frei Paolo Lombardo, ofm e como vice-postuladora Ir. Célia Cadorin, ciic; publicação da Positio em 30/out/2001; Decreto das Virtudes Heróicas em 14/01/2011; Decreto sobre um Milagre em 28.6.2012; Beatificação em 4.5.2013, em Baependi, MG.
Bibliografia sobre Nhá Chica (pedidos no endereço abaixo):
Ir. Célia CADORIN, Maria do Carmo Nicoliello PINHO e Maria José Turri NICOLIELLO (org.). Nhá Chica, A Pérola de Baependi – Francisca de Paula de Jesus – 1810-1895. Belo Horizonte: Associação Beneficente Nhá Chica, 2004, 112 p. (baseada na Positio – Biografia Documentada de Nhá Chica).
Dr. José Nicoliello VIOTTI, Maria do Carmo Nicoliello PINHO e Maria José Turri NICOLIELLO (org.). Anais – I Encontro de Estudos sobre Nhá Chica – Mulher de deus e do Povo no Contexto da História – 21 e 22 de maio de 2004 – Baependi, MG. Baependi: Associação Beneficente Nhá Chica, 2005.
Dr. José Nicoliello VIOTTI, Maria do Carmo Nicoliello PINHO (orgs.). ANAIS. 2o. Encontro de Estudos sobre Nhá Chica. Mulher de Deus e do Povo no contexto da história. Baependi: ABNC, 2007. 150p.
Helena Ferreira PENA. Francisca de Paula de Jesus – Nhá Chica – Biografia. 15a. ed. (relato da tradição oral)
Frei Jacinto de PALAZZOLO, ofmcap. A pérola escondida – Nhá Chica
Mons. José do Patrocínio LEFORT. Francisca de Paula de Jesus Isabel – Nhá Chica. 5a. ed. revista e ampliada pela comissão pró-beatificação em 2000 (biografia e milagres atribuídos à Nhá Chica)
Não deixe de conhecer o site oficial: www.nhachica.org.br
Receba em sua casa Nhá Chica Notícias do Santuário (belíssimo jornal mensal, Órgão oficial da Associação Beneficente Nhá Chica): www.jornalnhachica.com.br (pedidos de livros e jornal no e-mail: jornalnhachica@uol.com.br )
Para comunicar graças alcançadas por intercessão de Nhá Chica e maiores informações:
Associação Beneficente Nhá Chica
Rua da Conceição, 165 - Centro
37443-000 Baependi (MG)
Tel.: (35) 3343-1077 (também para pedidos de livros)
criancas@nhachica.org.br
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